sábado, 20 de novembro de 2010

Estranhos no ninho

Desde que fiz meu doutorado na Inglaterra ouço comentários sobre a fenomenal fuga de cérebros do Brasil através do programa de bolsas do CNPq e Capes. Muitos teriam ido e nunca voltado. Na verdade, eu conheço dois casos de gente que nunca voltou. E já andei especulando no CNPq e não há muitos casos. Alguns acabaram sendo cobrados, etc. mas nada de assustar.

Tenho também escutado comentários alarmados sobre a presença de bolsistas sustentados pelo CA-SN, que nada têm a ver com a área - seriam estranhos no ninho, sugando recursos da saúde coletiva, fugidos de outras áreas supostamente mais competitivas. A saúde coletiva tem realmente um perfil amplo, e não é muito fácil definir com clareza quem é da área e quem não é. Afinal, tudo pode ser "vestido" como de interesse para a saúde pública - até pesquisa 100% básica.

Tentando avaliar essa suposta situação de vazamento de recursos fiz uma análise exploratória com os dados da demando do PQ-2010. Um quarto da produção científica da área é veiculada em quatro periódicos: CSP, RSP, CSC, RBE (quem é da área vai saber de quem eu estou falando, hehe). Então, criei um indicador de suspeição: não ter publicado nenhum artigo nessas revistas nos últimos 5 anos.

Ok, ok, já escuto os comentários - "isso não prova nada". Tá, mas é o melhor que posso fazer com esses dados sem olhar o cv de cada um, assim, na unha, como tinha que fazer nos tempos de Capes. Veja como ficam os suspeitos:
Ah! Quase 10% de bicões? Não tão rápido, minha amiga. Dentre os que já têm bolsa, 2 foram identificados como suspeitos, 2 de 50. Finalmente, fui olhar nomes e cvs dos suspeitos. Bueno, tem um que realmente não parece nada com saúde coletiva.

Evidente que temos que estar atentos para isso, que não se pode cair na falácia de que saúde coletiva é qualquer coisa que remotamente tenha a ver com saúde e população. Mas também não parece que estamos sangrando por esse lado.

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