quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

O FUTURO CHEGOU PARA A INDÚSTRIA FONOGRÁFICA



Parece que as gravadoras estão descobrindo o óbvio: que dá mais lucro vender música direto e que tem um monte de gente disposto a pagar pela música que ouve. Assim é que as gravadoras de música clássica Deutsche Grammophon, Linn Records, e agora Hyperion estão vendendo seus discos - lançamentos, arquivo e até discos esgotados - em formato digital. Tem também o sítio Classics Online onde dezenas de gravadoras disponibilizam suas músicas. Entre as mais conhecidas estão a Naxos, Nimbus, Marco Polo, Harmonia Mundi.

Pra quem mora no Brasil e tem acesso a um limitadíssimo catálogo de música clássica e não quer dar prejuízo pro seu artista preferido, agora dá para comprar as músicas sem pagar uma fortuna de frete e imposto. As gravadoras estão disponibilizando as músicas em formato MP3 de alta qualidade (320Kbps), FLAC (sem perda de qualidade em relação ao CD), ou mesmo em qualidade de estúdio (FLAC de gravações em 88.2kHz, 96kHz ou 192kHz). A DG também oferece, pela bagatela de US$0,99 acesso ao álbum completo por uma semana, para ouvir online. O valor é abatido do preço do disco se você resolver comprar o álbum completo.

Se você tem interesse, pode começar pelo disco fantástico de Sonatas e Partitas de Bach para violino solo pela jovem russa Alina Ibragimova. Festejadíssimo pela crítica, o disco é o segundo da violinista que parece que vai longe. Também, com essa carinha!

BOLSAS PQ E A SAÚDE COLETIVA



A distribuição de bolsas PQ sempre dá o que falar, com gente se sentindo injustiçada e gente feliz da vida porque ganhou a bolsa. Mas os relatórios do comitê não são divulgados pelo CNPq e acaba faltando informação para a comunidade científica.

Assim, minha idéia é fazer aqui um relato sucinto do processo e dar uma idéia do tamanho da demanda e do percentual de pedidos qualificados que são atendidos no processo. Veja que essa é uma análise rápida dos dados disponíveis e que tem o intuito de dar uma idéia da questão e não ser 100% acurado. A limpeza final dos dados no seu conjunto levaria um tempo que este aqui não tem à sua disposição.

Em breves palavras, o julgamento das bolsas PQ envolve gente que já tem a bolsa e pede renovação e pedidos novos (a menos de quem já tem a bolsa e se esquece de renovar, coisa que tem sido uma “grande” fonte de bolsas novas). Há nos critérios uma definição da produção típica dos bolsistas 1 e 2 e critérios de desempate. Como sempre, o CNPq não prepara para o comitê um relatório com os dados compilados, e cada candidato tem que ser analisado individualmente. Para melhorar essa situação e ter uma visão do conjunto, este ano conseguimos uma planilha com a produção de artigos e compilamos uma tabela para cada solicitante, com o número de artigos por cada categoria Qualis (a classificação antiga, de Internacional-A, etc.) publicados nos últimos 10 anos. A partir destes dados calculamos uma pontuação de artigos baseada na fórmula:


onde IA, IB, IC, NA são os números de artigos em cada categoria. Para livros, computamos pontos da seguinte forma: livros inteiros, 200 pontos (duas vezes um artigo IA), capítulos, 100 pontos. E limitamos a 200 pontos a participação em um único livro tipo coletânea – ou seja, quem escreveu mais de dois capítulos em uma mesma coletânea ganhou 200 pontos. Foram computados livros publicados de 2005 em diante. Finalmente, não levamos em conta livros ou capítulos que se caracterizavam como didáticos – a partir do título e da editora e nem publicações sem ISBN. O cálculo de pontos de livros foi feito somente para a sub-área de Saúde Pública/Medicina Preventiva e não para Epidemio.

As decisões sobre atribuição de bolsas levaram em conta a pontuação dos candidatos, sendo que pontuações próximas foram tratadas como empates e o desempate feito com base nos critérios definidos pelo comitê e disponíveis no sítio do CNPq. Ou seja, a pontuação serviu de guia, mas não foi o que definiu o resultado final. As sub-áreas Epidemio e Saúde Pública/Medicina Preventiva (que vou chamar daqui para frente só de Saúde Pública, por que é a esmagadora maioria) foram avaliadas independentemente.

Em resumo, a tal pontuação leva em conta a produção em artigos dos últimos 10 anos (de 1999 em diante) e, para a Saúde Pública, somou-se a pontuação de livros dos últimos 5 anos. Para facilitar o entendimento, os pontos foram transformados em número equivalente de artigos IA, dividindo a pontuação por 100.

A demanda
Tivemos 231 pedidos de bolsa na Saúde Coletiva (cerca de 300 se incluímos a nutrição, que faz parte do comitê). Destes, 79 já eram bolsistas, 152 eram novos pedidos. A Tabela 1 mostra os números por sub-área.

Nem todos os pedidos novos foram considerados competitivos. No julgamento, foi feita uma análise individual, mas aqui, para dar uma idéia geral considerei não competitivo o candidato com menos de 10 equivalentes IA. Na Epidemio tivemos 43 candidatos competitivos (88%) e na S. Pública, 80 (78%).

No final, tivemos 13 bolsas novas no comitê, mais cinco bolsistas 1 e três bolsistas 2 que não pediram e renovação. Ainda mais 5 bolsistas da SP e 1 da Epidemio que perderam a bolsa por apresentar produção muito abaixo do conjunto da demanda. De forma que pudemos atender 20 pedidos novos na Saúde Coletiva, 12 para a SP e 8 para a Epidemio. Assim, da demanda competitiva das sub-áreas, deixamos de atender 16 (67%) da Epidemio e 44 (79%) da SP. Ou seja, seriam necessárias mais 60 bolsas para atender integralmente a demanda qualificada.

Comparação da produção
Para entender melhor como se distribuem as bolsas e a produção científica por nível de bolsa e área, fiz um gráfico (veja a Figura 1) comparando as médias de produção em equivalentes de artigos IA. Lembrando, temos a produção dos últimos 10 anos de artigos para a Epidemio e isto mais 5 anos de livros para a S. Pública. Na Epidemio, há um gradiente claro na média da produção, bem dentro daquilo que se esperaria. A média vai de cerca de 25 artigos equivalentes IA entre bolsistas PQ-2 até quase 80 entre os PQ-1A. Na Saúde Pública, a relação não é tão arrumadinha.

Isso nos leva aos comentários finais sobre a distribuição das bolsas. O que vem acontecendo é que as novas cotas são para bolsa PQ-2. Novas bolsas 1 acabam aparecendo principalmente por não solicitação de renovação ou alguns rebaixamentos ocasionais. Além disso, neste julgamento, fomos informados de que o percentual de bolsistas 1A não deve ultrapassar 10% do total de bolsistas 1, sem prejuízo da cota existente. A conseqüência disso é que a progressão para o nível 1A ficará basicamente na dependência de saída dos bolsistas atuais, visto que temos 30% dos bolsistas 1 no nível 1A. O mesmo é verdade para bolsistas 1, em geral. Esse processo leva a discrepâncias na distribuição da produção, visto que pesquisadores com crescente produção não têm como progredir e acabam “inflacionando” a média do seu nível. A distribuição final das bolsas julgadas este ano aparece na Tabela 2.

A falta de bolsas suficientes e a conseqüente dificuldade na progressão ou ingresso no “sistema” é ruim para os pesquisadores, que se frustram ao não ver seu progresso reconhecido na forma da bolsa. Mas também uma grande saia justa para o comitê, que tem que tomar decisões que ficam na dependência das bolsas disponíveis e das resoluções do CNPq – questões nas quais o comitê não tem ingerência alguma. Para terminar, esse tipo de avaliação do processo deveria ser feito pelo comitê e publicado pelo CNPq. Como este não tem publicado os relatórios em seu sítio, montei este apanhado. Como já disse, ele não tem a pretensão de ser completo nem 100% exato. Mas sim, apresentar um quadro geral da situação das bolsas PQ na Saúde Coletiva.

domingo, 1 de novembro de 2009

Picasa reconhece a tua cara!


A nova versão do Picasa - gerenciador de fotos do onipresente Google - além de ser gratuita, editar fotos, enviar pro blog, etc. etc., agora também tem um reconhecedor de rostos. Já viu filme de ação com as pessoas sendo reconhecidas pelas câmeras de segurança. Parece isso! Você vai dizendo quem é cada cara e as outras da mesma pessoa vão sendo reconhecidas por semelhança. Impressionante!

E esse aí da foto ao lado - vc reconhece sem a legenda???

sábado, 31 de outubro de 2009

Tirando as fraldas


Quem diria? Mas tem hora certa pra tirar as fraldas do moleque, e eu co-autorei. A idéia é da Denise Mota, que como pediatra e nefrologista vê com preocupação a falta de orientação para as mães. Os pediatras não se ligam no assunto e há pouca literatura no Brasil. O livro é uma proposta de trazer informações atualizadas para as mães (e pais!) de uma forma muito simples e divertida. O livro vale por dois: se lê de uma lado para os meninos e de outro para as meninas.

As ilustrações são muito bonitas e se torna um material para ler com a criança, parte do processo de treinamento para encarar aquele vaso com turbilhão. Criança tem medo mesmo. Muita conversa, uso de adaptador de assento e um apoio para os pés (quando se usa o vaso) são as chaves do processo. Além de saber a hora certa, claro! O livro tem distribuição ainda limitada. Mas se vc se interessar pode entrar em contato direto com a Denise por email.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Profissão gari - para pós-graduados?


Deu na

Folha Online

22/10/2009 - 10h06

Concurso para garis atrai 22 mestres e 45 doutores no Rio

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da Folha de S.Paulo, no Rio

Com inscrições abertas desde o dia 7, o concurso público para a seleção de 1.400 garis para a cidade do Rio já atraiu 45 candidatos com doutorado, 22 com mestrado, 1.026 com nível superior completo e 3.180 com superior incompleto, segundo a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana).

Para participar do concurso, basta ter concluído a quarta série do ensino fundamental. As inscrições terminam amanhã.


Será que a vida está tão difícil assim no Rio? Ou será que a formação graduada e pós-graduada virou só papel? Veja o que diz um estudante de história:

"Disseram que eu era maluco, que eu ia ficar fedendo a lixo... Mas a faculdade hoje não garante emprego nem estabilidade para ninguém. Eu quero segurança"
Me preocupa o valor do ensino superior. Apesar da Capes, tem doutor querendo ser gari. Se nem o doutorado (às vezes) forma um profissional desejado e com bom mercado de trabalho é por que tem alguma coisa errada.

Como orientador de pós e como examinador de muitas teses e dissertações, acho que nos falta rigor. Em muitos programas de pós-graduação é mais difícil entrar (a seleção é super disputada) do que sair (já que reprovação em defesa de tese é algo que ainda não vi).

Será que não estamos "doutorando" futuros garis? O investimento que está sendo feito no Brasil para aumentar a oportunidade na pós é grande. E como todo recurso público deveria ser muito bem aproveitado. De preferência formando as cabeças que vão transformar nosso país num lugar onde seja difícil encontrar candidatos a gari por que há melhores oportunidades para todos. Mas, quando o dinheiro da pós é gasto de forma simplesmente a outorgar um título (de papel e não de mérito) que vai aumentar o salário de um funcionário público (o docente com doutorado ganha mais), aí, então, esse gasto é dobrado...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Julgado o Edital Universal 2009



Nesta semana, de segunda a quarta-feira, o comitê assessor de Saúde Coletiva e Nutrição esteve reunido em Brasília para o julgamento do Edital Universal de 2009. Foram mais de 350 projetos submetidos – veja na tabela 1 o número de projetos por faixa e por área. Muito trabalho e muita responsabilidade para os 7 membros presentes (Everardo Nunes, coordenador, Cláudia Travassos, Celina Martelli, José Eluf Neto, Rosely Sichieri, Ana Marlucia Assis e eu).

No total, 42% dos projetos com nota igual ou maior a sete foram recomendados (cerca de 150 projetos). Os valores totais solicitados e os valores recomendados pelo comitê estão na tabela 2. Os projetos recomendados somaram quase 7 milhões de reais. Só que o recurso disponibilizado pelo CNPq para o comitê como um todo foi de 2,8 milhões – ou seja, menos da metade dos projetos recomendados serão efetivamente contemplados com recursos. O valor disponibilizado foi praticamente igual ao do ano passado e o número de projetos financiados deve ficar em torno de 57 (15, 21 e 21 em cada faixa).

Pelas discussões do grupo ficou claro que dois foram os erros mais comuns que geraram cortes nos orçamentos propostos. O primeiro, solicitar passagens e diárias para participar de eventos. O CNPq orienta os comitês que aceitem passagens e diárias apenas para viagens relacionadas à execução do projeto de pesquisa (reuniões de trabalho, visitas de campo, etc). O segundo, alocar recursos para pagamento de terceiros, PF, na forma de remuneração mensal por um período prolongado. Todo serviço a ser realizados por terceiros deve ser apresentado na forma de tarefas, com o respectivo valor. Por exemplo, realização de 3000 entrevistas a R$ 10 cada. E não 10 entrevistadores por 5 meses a R$ 600 por mês. Pode parecer “semântica”, mas é como é.

A despedida dos dois membros veteranos do comitê (Everardo e Cláudia) foi devidamente celebrada no bistrot de Daniel Briand, ao sabor de queijos, pães e vinhos. Agora aguardamos a indicação dos novos membros, que deve acontecer ainda antes da reunião para julgamento das bolsas PQ, que acontece em novembro.
Nota: Os números apresentados aqui são aproximados, em função da forma como foram coletados, e podem não bater exatamente com os relatórios e dados a serem divulgados pelo CNPq – mas representam uma aproximação bastante boa da realidade. Os comentários são de total responsabilidade do autor, não sendo o texto manifestação do CNPq ou do comitê.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Carlos Augusto Monteiro recebe o Prêmio Thomson Reuters de Produtividade e Impacto Científico


Grande satisfação em ver o amigo Carlos Monteiro recebendo o Prêmio Thomson Reuters de Produtividade e Impacto Científico! O artigo responsável pelo prêmio é "Is obesity replacing or adding to undernutrition? - Evidence from different social classes in Brazil", publicado em 2002 na Public Health and Nutrition, que conta com 60 citações no Web of Science (Thomson/ISI) e 63 na base Scopus. Pra quem ficou curioso, o artigo conclui
Undernutrition in young children is being controlled in Brazil without evidence of increasing obesity. However, obesity is rapidly replacing undernutrition in most gender, region and income strata of the adult population. Adult obesity is already more frequent than adult undernutrition in the more economically developed region, among all higher-income groups, and also among lower-income women living in the more developed region. These lower-income women are significantly more exposed than their higher-income counterparts to both undernutrition and obesity.
Vale a pena a leitura da peça completa. Mas esse não é, de longe, o artigo mais citado do Carlos. Com 254 citações no Web of Science e 315 na Scopus, ele tem o "Trends of obesity and underweight in older children and adolescents in the United States, Brazil, China, and Russia", publicado também em 2002 no AJCN. Carlos - parabéns pela merecida homenagem!

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Alô? Quem? É o câncer?



Tem muita especulação sobre os efeitos sobre a saúde de um monte de coisas. Adoçantes, corantes, pesticidas. E também sobre o seu inseparável companheiro - o celular. Nessa semana, um grupo de especialistas se reúne em Washington, DC, para discutir o assunto. É a "Expert Conference on Cell Phones and Health". Tem uma reportagem interessante na CNET - e já tem gente dizendo que o celular é a nova versão do cigarro em termos de controvérsia epidemiológica. Vale a pena conferir!

domingo, 13 de setembro de 2009

Eba! Chegou o Stata 11



Recebi esta semana a versão 11 do Stata. As duas novidades que me entusiasmaram mais foram a documentação completa em pdf, que fica disponível no computador. Não precisa mais carregar uma mala de manuais! Outra coisa é a forma muito mais elegante de tratar variáveis categóricas. Em vez da chatice do xi:, agora as variáveis podem ser prefixadas com i. ou c. e interações funcionam com todos os tipos de variáveis. Menos usado, mas também importante é a implementação completa de imputação múltipla. Vamos ao trabalho!

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Publicado o artigo de desenvolvimento infantil na Coorte de 2004

O trabalho que já mencionei em texto anterior, sobre desenvolvimento infantil na coorte de 2004 agora está publicado e pode ser consultado na íntegra no site do International Journal of Epidemiology. Aliás, a revista da Associação Internacional de Epidemiologia está de parabéns: seu fator de impacto calculado pelo ISI passou para 5,8!

O trabalho "Child development in a birth cohort: effect of child stimulation is stronger in less educated mothers" tem como autores Aluisio JD Barros, Alicia Matijasevich, Ina S Santos e Ricardo Halpern. International Journal of Epidemiology 2009; doi: 10.1093/ije/dyp272. Atalho para acesso: http://ije.oxfordjournals.org/cgi/content/abstract/dyp272

ABSTRACT
Background
Child health has improved in many developing countries, bringing new challenges, including realization of the children's full physical and intellectual potential. This study explored child development within a birth cohort, its psychosocial determinants and interactions with maternal schooling and economic position.
Methods All children born in Pelotas, Brazil, in 2004, were recruited to a birth cohort study. These children were assessed at birth and at 3, 12 and 24 months of age. In this last assessment involving 3869 children, detailed information on socio-economic and health characteristics was collected. Child development was assessed using the screening version of Battelle's Development Inventory. Five markers of cognitive stimulation and social interaction were recorded and summed to form a score ranging from 0–5. The outcomes studied were mean development score and low performance (less than 10th percentile of the sample).
Results Child development was strongly associated with socio-economic position, maternal schooling and stimulation. Having been told a story and owning a book were the least frequent markers among children with score 1. These children were 8.3 times more likely to present low performance than those who scored 5. The effect of stimulation was much stronger among children from mothers with a low level of schooling—one additional point added 1.7 on the child's development for children of low-schooling mothers, whereas only 0.6 was added for children of high-schooling mothers.
Conclusions Our stimulation markers cannot be directly translated into intervention strategies, but strongly suggest that suitably designed cognitive stimulation can have an important effect on children, especially those from mothers with low schooling.
Keywords Child development, cognitive stimulation, social determinants of health, social inequalities, birth cohort, child, Brazil
Accepted 7 July 2009

sábado, 29 de agosto de 2009

Aplicativos perfeitamente gratuitos



Tem coisas que a gente mal acredita. Por que alguém ia produzir um aplicativo ótimo e distribuir de graça, no string attached? Mas tem sim! Um deles é o 7zip. Esta belezinha é um compactador de arquivos que usa um algoritmo que gera arquivos que têm metade do tamanho de um zip. E pode também compactar e descompactar em qualquer outro formato: zip, rar, arj, cab, tar, iso, etc. etc. etc. O programa é pequeno, leve, rápido e gratuito!

Outros exemplares dessa raça rara são o Revo Uninstaller, que desinstala tudo e limpa o registro. For free! A calculadora Moffsoft Freecalc, que funciona como uma calculadora de fita (aquelas que têm uma fita de papel onde as contas vão sendo impressas). E tem também o EditPad Lite, que é um editor de texto simples pra quem precisa trabalhar com arquivos grandes de programas ou em HTML.

Ler e gerenciar PDFs de graça



Eu recentemente tive uma grande decepção ao precisar do suporte Adobe no Brasil. Simplesmente não funciona e o dinheiro que gastei comprando o Acrobat 8, até agora, está desperdiçado por que não consigo ativar o programa no meu laptop novo. Decidido a não dar mais um centavo para a Adobe, saí atrás de ferramentas gratuitas para trabalhar com arquivos PDF. E como quem procura acha, encontrei o Foxit Reader, totalmente gratuito, que permite leitura e anotações em PDFs. Coisa que, aliás, o Acrobat Reader fazia versões atrás e não faz mais...

Achei também um pacote de ferramentas gratuitas que permitem, entre outras coisas, gerar PDFs via impressão, juntar, dividir e reordenar arquivos PDF, converter PDF em imagem, etc. etc. A barbada é cortesia de PDFill, que também tem um editor completo, mas pago.

sábado, 8 de agosto de 2009

Grande ajuda pra quem tem empregado doméstico



A legislação trabalhista no Brasil é complexa e mesmo pra quem tem um empregado doméstico, manter a documentação em ordem, calcular valores de férias, adicionais, etc., pode ser uma complicação. O pessoal da delegacia regional do trabalho do Maranhão desenvolveu um aplicativo - o TrabDom - super útil que faz tudo o que é necessário para o gerenciamento de um empregado - gera recibos, calcula a contribução do INSS, registra férias, calcula os valores a serem pagos etc etc. O programa é gratuito e pode ser baixado do site da DRT-MA. Obrigado aí, pessoal do MA!

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Cesáreas bem indicadas???



O Brasil é campeão mundial, entre outras coisas, de cesárea! A proporção de partos por cesariana vem crescendo ano a ano e já está em quase 50%. A OMS preconiza algo em torno de 15 a 20%! O gráfico abaixo mostra a evolução da cesárea no Brasil de acordo com dados da Ripsa.
Analisando dados da Coorte de Pelotas, 2004, avaliamos o comportamento dos partos por dia da semana. Veja que interessante! Como as mães são muito compreensivas, não apresentam complicações para os médicos terem que trabalhar no fim de semana. E o número de cesáreas cai sábado e domingo. Curioso é que os partos normais continuam a ignorar o descanso semanal.

Hmm. Vocês sabem que a indicação de cesárea também depende de quem paga o pato, isto é, o parto. Se é o SUS, 36% de cesárea. Se é plano de saúde, 84% de cesárea. Se escolher o signo da criança já não é novidade para as cesáreas programadas, garanto que já tem gente escolhendo o ascendente.

Enquanto isso, alguns estudos baseados em grandes amostras têm mostrado que uma alta proporção de cesáreas traz problemas sim. Veja o que dizem Villar et al. no Lancet, em artigo de 2006:
Rate of caesarean delivery was positively associated with postpartum antibiotic treatment and severe maternal morbidity and mortality, even after adjustment for risk factors. Increase in the rate of caesarean delivery was associated with an increase in fetal mortality rates and higher numbers of babies admitted to intensive care for 7 days or longer even after adjustment for preterm delivery. Rates of preterm delivery and neonatal mortality both rose at rates of caesarean delivery of between 10% and 20%.

Windows Media Player não quer tocar DVD?



Pois é, se você temVista Business ou outra versão do Vista sem o Windows Media Center pode ficar atrapalhado na hora de assistir um DVD. O WMP não vai tocar... E a "ajuda" do Windows vai tentar te vender um decodificador. Isso aconteceu comigo e depois de algumas horas quebrando a cabeça achei a solução. É só instalar um pacote de "codecs", como o K-Lite Codec Pack. Baixe, instale, e assista. E não pague nada!

sábado, 1 de agosto de 2009

Reunião da Sociedade de Biometria em São Carlos



No dia 27 de julho estive em São Carlos para participar da 54ª RBRAS - Reunião Anual da Região Brasileira da Sociedade Internacional de Biometria, apresentando uma palestra em sessão coordenada por Enrico Colosimo (UFMG). Participaram da sessão Ângela Tavares Paes (UNIFESP/Instituto Albert Einstein) que apresentou uma série de situações de utilização de modelos do sobrevida em pesquisa clínica e Suely Ruiz Giolo (UFPR) que falou sobre o uso de modelos de sobrevida em estudos sobre doenças transmitidas por genes feitos com famílias.

Ótima oportunidade de reencontrar velhos conhecidos dos tempos de mestrado na Unicamp. Lá estava José Antonio Cordeiro, meu ex-professor de inferência e agora aposentado do IMECC/Unicamp e atuando em S. J. do Rio Preto. E também Júlia Maria Pavan Soler, colega do mestrado e também orientanda do saudoso Clydão, o Prof. Euclydes Custódio de Lima Filho. Encontrei também o pessoal da estatística da UFRGS, e outros mineiros e cariocas. Não vou nominar todo mundo aqui. Mas valeu!

Minha mensagem? Principalmente mais integração entre os estatísticos de nascença e os epidemiologistas. Muitos problemas a resolver juntos!

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Tomando chá com Pearson, Fisher, et al.



Um subproduto da reunião de Petrópolis foi a indicação do livro "Uma senhora toma chá". Ou "The Lady Tasting Tea: How Statistics Revolutionized Science in the Twentieth Century", no título original. O livro foi escrito por um estatístico, com experiência na universidade e na indústria.

Diz a revisão da Amazon "Statistician David Salsburg examines the development of ever-more-powerful statistical methods for determining scientific truth in The Lady Tasting Tea, a series of historical and biographical sketches that illuminate without alienating the mathematically timid".

O livro, para quem se interessa por estatística, é muito interessante. Conta as trajetórias das figuras chave do desenvolvimento da estatística, seus conflitos e posições ideológicas. Num tom intimista, entre fatos e fofocas, o desenvolvimento da estatística é delineado de forma clara e instigante. E mesmo alguns conceitos básicos da estatística acabam discutidos e contextualizados. Enfim, uma leitura agradável para quem quer ter um panorama da estatística do século XX, sem a pretensão de virar historiador :-)

Veja detalhes no sítio da Amazon. O livro tem traduação para o português, e tem pra comprar na Livraria Cultura.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Mind the gap!



O uso de dados para que se possa entender o mundo é uma prática antiga. Mas novas tecnolgias de coleta de dados e geração de gráficos e animação estão fazendo uma revolução! Nesse vídeo se faz uma demonstração incrível do poder dos dados e de um bom comunicador. Tenha os seus preconceitos sobre a situação dos países colocados em cheque por essa belíssima apresentação. Veja o vídeo e use o site!



Clique aqui para usar o Gapminder.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Jóia bem exibida



Há uns dias falei de um artigo que eu acho que é pouco valorizado. Hoje falo do artigo sobre alternativas de análise para modelagem de desfechos binários (Barros AJ, Hirakata VN. Alternatives for logistic regression in cross-sectional studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence ratio. BMC Med Res Methodol 2003;3(1):21). Esse, ao contário, é bem visto! Aproveitei a 190ª citação no sistema Scopus para escrever essa nota. E aproveitar pra fazer um pouco de auto-propaganda...

A história desse artigo é curiosa. É um daqueles enjeitados que acabaram dando certo. No meu mestrado em estatística, a razão de chances já me intrigava. Mas meu orientador, Euclydes, ou o Clydão, não achava que era nada de muito interessante. Depois de preparar o artigo, sua publicação foi complicada. Os estatísticos, como meu orientador do mestrado, não entendiam o que é que estava errado com razão de chances. E as revistas de epidemiologia não achavam que era assunto pra elas. Acabei publicando o artigo na BMC Medical Research Methodology. E descobri que esse é um sistema muito interessante. Além do acesso livre, há uma contabilidade do número de visitas ao artigo. E no último ano, sabe que este é o quinto mais acessado da revista? Teve 5563 visitas! E desde sua publicação teve 24519 acessos, sendo o quarto mais visitado de todos os tempos.

Logo antes da publicação (e depois da submissão, coisas do acaso), saiu um artigo tratando do mesmo assunto no American Journal of Epidemiology (1) e ainda outro no ano seguinte (2).

Tem gente que ainda acha estranha essa coisa de usar regressão Poisson (com variância robusta) para modelar dados binários, mas a moda pegou. Estamos trabalhando (Enrico Colosimo e eu) em um sistema de diagnóstico para o modelo para evitar as situações em que se possa estimar valores impróprios ("probabilidades" de evento > 1) a partir do modelo. E quem sabe numa rotina de estimação com restrição que resolva o problema!

1. McNutt LA, Wu C, Xue X, Hafner JP. Estimating the relative risk in cohort studies and clinical trials of common outcomes. Am J Epidemiol 2003;157(10):940-3.
2. Zou G. A modified poisson regression approach to prospective studies with binary data. Am J Epidemiol 2004;159(7):702-6.

Livro de modelagem em epidemiologia - espere que vai valer a pena!


Com essa turma, pode apostar que vai sair um livro muito legal!

Tirado do frio do inverno pelotense, acabei passando três dias gelados em Petrópolis - 14 a 16 de julho. Obrigado, Marília! ;-) Mas a turma estava quente. Animada e divertida, a troupe trabalhou sério nas primeiras linhas do que deve ser um livro bastante inovador - modelos estatísticos aplicados à epidemiologia. Um livro que vai se atrever a misturar estatística em boa dose, mas com muita intuição e interpretação. Um livro pra acabar com as desculpas dos não-estatísticos de que modelagem estatística é coisa complicada. A coordenação fica por conta de Marília Carvalho e Valeska Andreozzi. Vai ser um livro bilíngüe, português e português, graças à colaboração de Valeska (convertida à metrópole portuguesa) e colegas de Lisboa.

A composição do grupo mostra que a intenção é boa. Tem desde quem não abre mão da função de verossimilhança até quem não vai deixar passar em branco a interpretação baseada em modelo conceitual. Entre estatísticos de carteirinha e epidemiologistas assumidos, tem aqueles que ainda não sabem bem qual o seu rótulo. Mas todo mundo MUITO afiado. Não vou listar aqui os 15 (ou tantos) nomes. Mas quem conhece, pode olhar a foto e acreditar.

O social também não deixou a desejar. Jantares regados a vinho tinho - às vezes chileno, às vezes argentino - e muita história boa. Apareceram passados revolucionários e boas piadas. O livro vai ter que incorporar o teste de Potes - que segundo as entendidas tem um significado bem especial em polonês. Humm! A família exponencial também já tem figuração garantida, assim como a função de verossimilhança e os modelos conceituais. Tudo muito vaselinado, prá ninguém reclamar. Olha! aviso aos autores - vamos calcular índice de impacto por capítulo. Vamos ver quem vai se sair melhor: a Poisson ou a verossimilhança. Hehehe!

O livro certamente vai falar R (pela turma, arrastado de carioca e não retroflexo de paulista), mas vamos dar um jeito de atender a torcida do Stata também. Seja no apêndice, seja no sítio do livro, prometo não deixar meus parceiros na mão!

Agora, é esperar para ver!

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Livro sobre modelagem em epidemiologia em gestação no LNCC/Petrópolis

Hoje, estou de viagem para a bela Petrópolis. Missão: participar de uma reunião com um grupo de bioestatísticos e assemelhados de onde deve sair um projeto de um livro brasileiro sobre modelagem de dados. Como diz Marilia Sá Carvalho, que organiza o encontro, "A idéia é elaborar um livro que trabalhe o conceito de modelagem em epidemiologia que pode ser definido através da sinergia entre EPIDEMIOLOGIA (problemas), DADOS (observação) e ANÁLISE ESTATÍSTICA (resultado). Assim como o livro de sobrevida “Análise de Sobrevida: Teoria e Aplicações em Saúde” - Editora Fiocruz, o livro de modelos de regressão terá como público alvo pessoas da área da saúde, mas com uma forte componente estatística."

A idéia parece ótima! Juntar a expertise nacional em modelagem de dados para escrever um livro que atenda às necessidades da comunidade da epidemiologia e bioestatística. Mais do que um livro, espero que saia desse esforço uma maior coordenação do grupo e da comunidade metodológica do país de forma a atacar as muitas dificuldades técnicas e metodológicas que enfrentamos no dia a dia da pesquisa. Mais notícias em breve!

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Jóia (meio) esquecida



Tem artigo que a gente escreve e sabe que é interessante. Mas às vezes ele "pega" e às vezes não. Isso aconteceu com o artigo que escrevi (co-autorado por Cesar Victora) propondo o IEN - um indicador econômico baseado em bens domésticos, parecido com aquele usado pela ABEP (ex-Abipeme) e muito popular entre os epidemiologistas.

A idéia é boa - Dave Gwatkin uma vez me disse: "Como é que não fui eu quem pensou nisso?". Mas não "pegou". A sacada é usar bens domésticos que são registrados pela amostra do Censo Demográfico. Como essa amostra é enorme (uns 12% dos domicílios do país), é possível calcular a distribuição do IEN para regiões, estados, e mesmo municípios. No artigo, apresentamos os decis para regiões, estados e capitais. Ou seja, tendo coletado os dados e calculado o indicador para os domicílios da amostra, você pode classificá-los nos décimos (ou quintos) da população de referência que quiser. Por exemplo, o indicador foi criado para classificar uma amostra de domicílios de áreas PSF de Porto Alegre. Com a referência municipal em mãos, pude classificar a amostra dentro dos quintos de referência para Porto Alegre e obtivemos o seguinte resultado:


Ou seja, pudemos concluir que os domicílios em áreas PSF eram mais pobres do que o conjunto dos domicílios da cidade como um todo. Mais de 35% dos domicílios em áreas PSF pertenciam aos 20% mais pobres da cidade. Sem o IEN, eu ia precisar de uma amostra do resto da cidade para poder comparar. Como se tem referências para outros níveis geográficos, eu poderia ver como é que essa amostra está em relação ao conjunto do estado, ou do país.

Muita gente me pergunta porque não usar o indicador da ABEP que é mais conhecido. A questão é que com ele só dá para calcular percentis internos à amostra ou classificar nos grupos A-E que foram criados para direcionar propaganda. Além disso, a pesquisa que origina o indicador da ABEP cobre apenas as regiões metropolitanas do país.

Se você quiser usar o indicador, eu tenho um material prontinho - questionário, instruções para calcular e instruções para classificar nos percentis. Os pontos de corte estão no artigo.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Artigo recém aceito no IJE mostra importância da estimulação das crianças

O IJE acaba de aceitar o artigo "Child development in a birth cohort: effect of child stimulation stronger in less educated mothers", de minha autoria com Alícia Matijasevich, Iná S Santos e Ricardo Halpern. O artigo mostra, em primeiro lugar, que há diferenças importantes de performance no teste de desenvolvimento aplicado às crianças da Coorte de 2004 quando elas tinham 2 anos. Comparando grupos de escolaridade materna, 22% das crianças de mães com 0-3 anos de escolaridade apresentaram um desempenho "baixo" em comparação com apenas 6% daquelas cujas mães tinham 11 anos ou mais de estudo. Avaliamos também o efeito de estimulação das crianças através de 5 indicadores simples: criança tem um livro, alguém leu/contou uma história para ela, foi ao parque, visitou alguém, assiste TV. As crianças receberam um escore de 0 a 5 dependendo do número de estímulos na última semana. Veja na tabela abaixo a diferença entre elas!
Outra coisa importante foi observar que o efeito da estimulação varia com a escolaridade da mãe. O efeito observado foi muito maior em crianças filhas de mães de escolaridade baixa. O gráfico mostra isso e que o desempenho das crianças mais estimuladas é praticamente igual, independente da escolaridade da mãe.

Desenvolvimento infantil não é uma área que tem tido muita ênfase no sistema de saúde no Brasil e que merece mais atenção. O nosso resultado sugere que se as crianças forem bem estimuladas em idade precoce, podem recuperar a desvantagem criada pela falta de escolarização das mães. Há muitas experiências positivas de estimulação cognitiva com crianças pequenas, inclusive no Brasil. O tema também foi assunto das páginas amarelas da Veja, há poucas semanas. Aqui temos mais uma razão para pensar no desenvolvimento das nossas crianças!

segunda-feira, 1 de junho de 2009

eBooks - uma boa idéia estragada pelo famigerado DRM



De repente, tudo ficou virtual. Os artigos, a gente tem tudo em pdf. Muitos livros também. E a indústria de livros também entrou nessa. A gigante Amazon tem o Kindle, leitor de um formato proprietário de livro eletrônico - os eBooks ou eLivros no vernáculo. A Sony tem um leitor de eLivros baseado no formato pdf, mais flexível, porque tem um monte de eLivrarias vendendo livros líveis nele.

Andei entusiasmado. Afinal um laptop pode virar um leitor de eLivros com o Adobe Digital Editions, ou com o Microsoft Reader, ou com vários outros leitores. No eBookMall você pode ter idéia da variedade. Livros clássicos você encontra de graça, ou a preço de banana. Lançamentos custam mais ou menos o mesmo de um livro de bolso, com a vantagem que não tem demora nem frete.

Depois de comprar um par de eLivros, e pensando em emprestar para uma amiga devoradora de páginas no fim de semana, me dei conta do problema básico! Não é possível emprestar um eLivro!

Como eLivros são guiados pela mesma lógica do DRM (gerenciamento de direitos digitais), só o usuário autorizado a ler o livro é aquele que comprou os direitos. Assim, só é possível "emprestar" o eLivro se você passar seu nome de usuário e senha pra frente... E como só se pode autorizar 6 leitores, você corre o risco de ficar na mão.

Fica aqui minha modesta mensagem pra quem vende eLivros: ou vocês criam um mecanismo de empréstimo, ou cobram um preço que equivale a uma única leitura do livro. Ou? Ou eu só vou comprar livros de papel, oras!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Novo índice de concentração proposto por Erreygers é fortemente criticado por Wagstaff

Com o interesse crescente na literatura acadêmica mundial sobre as iniqüidades em saúde, a medida das desigualdades tem sido um tema sempre interessante. Há variadas propostas para medir desigualdades em saúde, sendo que como se pode obter respostas conflitantes sobre a evolução das desigualdades no tempo dependendo da medida que se escolhe, há sempre o perigo de conflito no ar.

A polêmica reacendeu recentemente com a publicação de uma proposta de um índice de concentração “corrigido”, por Guido Erreygers da Universidade de Antuérpia, Bélgica. No paper, “Correcting the concentration index” publicado no Jounal of Health Economics, Erreygers propõe o que parece ser a salvação da lavoura para a estimativa do índice de concentração para indicadores de saúde que tem valores limitados a um determinado intervalo (como, p. ex., variáveis binárias tão comuns na epidemiologia).

Erreygers procurou um indicador, na família de índices baseados em postos, que tivesse algumas propriedades desejáveis, como o índice calculado para déficit nutricional ser o mesmo quando calculado para ser bem nutrido. O índice também é insensível a mudanças de escala da variável.

Em resposta à “correção” de um índice que vem usando e defendendo há tempos, Adam Wagstaff (economista sênior do Banco Mundial) levanta uma série de questões sobre o índice de concentração de Erreygers. Numa troca de comentários recheada de “meu indicador”, Wagstaff aponta que o indicador proposto por Erreygers é essencialmente uma medida de desigualdade absoluta. Ou seja, se todos os indivíduos da população experimentam uma mudança igual (mais ou menos um valor fixo), o novo índice de concentração de Erreygers não se altera. Mas se todos tiverem, por exemplo, um redução de 30%, o índice “corrigido” diminui. Assim como aconteceria com a diferença entre a média dos quintis extremos ou com o SII.

Visto que os usuários de índice de concentração original normalmente estão em busca de um indicador relativo de desigualdade, isto levanta uma questão importante sobre a aplicabilidade da medida proposta por Erreygers. Este, evidentemente, apresenta uma interessante defesa de seu índice. Uma leitura atenta dos documentos é altamente instrutiva!

quinta-feira, 21 de maio de 2009

UFPel na frente das grandes universidades brasileiras

Tivemos grata surpresa ao tomar conhecimento de um ranking de universidades produzido pelo grupo espanhol Scimago e baseado em dados da base bibliográfica Scopus (hoje utilizada pela Capes na avaliação da pós brasileira). Esse ranking coloca a UFPel em 699º lugar, e primeira entre as universidades brasileiras. Para gerar essa classificação foi utilizado um único critério, média de citações normalizada. Esse critério, conhecido como indicador de Crown, corrige o impacto da produção por área, de forma a ajustar para as conhecidas diferenças de citação em cada área do conhecimento. Foi estudado o período de 2003 a 2007. Um relato mais detalhado do estudo e as listas completas podem ser obtidas no sítio da revista espanhola Magisterio.

No Brasil, a UFPel ocupa a primeira colocação com um índice igual a 1,07 que indica que sua produção científica é citada 7% mais que a média geral. Seguem na classificação a UFSM, a UFRGS e a USP, todos com índices abaixo de 1.

Uma avaliação das citações dos artigos identificados como UFPel na base Scopus, no mesmo período, mostra que a contribuição do Centro de Pesquisas Epidemiológicas é marcante. Oito dos 10 artigos mais citados são do grupo da epidemiologia, tendo eu o orgulho e o prazer de ficar no topo da lista com o artigo "Barros AJ, Hirakata VN. Alternatives for logistic regression in cross-sectional studies: an empirical comparison of models that directly estimate the prevalence ratio. BMC Med Res Methodol 2003;3(1):21. DOI: 10.1186/1471-2288-3-21", que teve até hoje 180 citações. Outros dois artigos são do grupo da biotecnologia, em franca expansão na universidade, contando hoje com curso de graduação, mestrado, doutorado.

Evidentemente, não estou aqui a dizer que a UFPel seja melhor que outras. Mas pode-se dizer tranquilamente que uma universidade pequena e fora da capital pode sim ter uma produção científica de fazer inveja às irmãs maiores.

domingo, 5 de abril de 2009

Um adeus a Norberto Dachs



Esta semana recebi uma notícia que me entristeceu - a morte de Norberto Dachs. Junto com meu orientador, Euclydes Custódio de Lima Filho, o Clydão, Norberto teve um papel marcante no meu aprendizado de estatística, durante meu mestrado no IMECC, na segunda metade dos anos 80. Mais do que aprender uma técnica, Norberto me ensinou a gostar da estatística e me fez entender melhor seus usos e limitações. Foi com Norberto que fiz meu primeiro curso de regressão linear. Sempre com um cigarro aceso (e às vezes dois, nos tempos em que fumar em sala de aula ainda era possível), destrinchou os segredos e as belezas dos modelos lineares.

Anos depois, já professor da UFPel, reencontrei Norberto ao trabalhar num projeto da OPAS coordenado por ele. E novamente Norberto teve papel importante na minha entrada pela área da equidade em saúde. Sua fantástica capacitação profissional, seu engajamento científico e enorme capacidade de trabalho desaguaram de forma bastante natural na saúde pública e epidemiologia. Nessa oportunidade pude apreciar melhor suas qualidades de pessoa - sua grande generosidade, seu interesse pelo ser humano, sua enorme simpatia.

O interesse pelos problemas de saúde aproximaram Norberto dos epidemiologistas e nossa comunidade perdeu um grande parceiro. Tendo partido, nos deixa muitas lições. Quem trabalhou com ele não se esquece de sua teoria sobre o efeito "sou uót". Seu espírito crítico não permitia que nenhum projeto ou trabalho escapasse do escrutínio "sou uót?" Pra que serve isso, o que vamos aprender com isso, como a realidade vai mudar (ou melhorar) com isso?

A esse grande mestre, parceiro de trabalho e amigo, só me resta dizer: Obrigado, Norberto!

José Norberto Walter Dachs faleceu em 9/3/2009, aos 65 anos, em Campinas.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Dica do Stata: gráficos com intervalo de confiança



O Stata faz gráficos super bonitos, mas nem sempre é fácil chegar onde a gente quer. Em epidemiologia, a gente toda hora quer fazer gráficos de pontos ou de barras com intervalos de confiança. Aqui vão comandos básicos para gerar gráficos desse tipo.

Este gráfico é gerado pelo comando

twoway rcap icinf icsup escol || scatter coef escol, legend(off) xscale(range(.7 4.3))
xlabel(, valuelabels) ytitle(Mean development score)


Em itálico estão os nomes das variáveis: icinf e icsup são os limites de cada intervalo de confiança.

Este outro gráfico é gerado pelo comando

twoway (bar p10pct escore, barwidth(.5)) (rcap p10pctsup p10pctinf escore),
legend(order(1 "% in P10" 2 "95% CI" )) ylabel(0 (10) 60) ytitle(Percent)

Idem acima! Brincando com o comando e danda uma olhada na ajuda do Stata vc vai conseguir entender o que cada instrução faz! Boa diversão!

domingo, 22 de março de 2009

Dica do Stata: CTRL+SHIFT+C



Outro dia, numa aula sobre medidas de tendência central e variabilidade, saiu uma conversa sobre como montar relatórios da aula prática, etc. E todo mundo ficou encantado em descobrir que se pode copiar a saída do Stata de um jeito que se transforma em tabela do Word direto!

A dica é simples. Depois de produzir o resultado que vc quer, selecione a área que interessa. Aí tecle CTRL-SHIFT+C para copiar transformando os espaços em tabulações. Cole num documento do Word, selecione o texto que vc acabou de colar e clique no botão "Inserir tabela" da barra de ferramentas principal. Feito! Agora vc pode formatar a tabela pra ficar com a cara que vc quiser.

sábado, 21 de março de 2009

Encontro da XVI turma da Medicina Unicamp

Fim de semana passado (14-15 de março) tivemos um encontro de 25 anos de formatura! Não parece que faz tanto tempo... Marcado para a Pousada do Broa em Itirapina, me pareceu, de saída, um lugar meio brega. Mas, na verdade, é muito agradável. À beira de uma represa tem mato, pássaros e, claro, muita água.

A viagem de ida, num dia de céu sem nuvens, ofereceu vistas aéreas maravilhosas das terras planas e alagadas do sudeste do RS! Na imagem, Pelotas vista do alto. Dá pra ver o Canal de S. Gonçalo (que liga a laguna dos Patos com a Mirim), o Laranjal nas margens da lagoa e o centro mais ao fundo. A viagem em dia de céu limpo é linda e parece uma passeio num Google Earth gigante.

Mas voltando ao encontro, pena só que não mais de 1/4 da turma estava lá. Mas foi ótimo rever o pessoal. Muitos eu não via desde 1983! Entre notícias dos tempos atuais e recordações dos antigos, passamos dois dias muito agradáveis. Com o firme propósito de tentar um encontro antes dos 30 e com mais gente. Se vc faz parte da turma, não deixe de se cadastrar e visitar o grupo da XVI! Vá já para http://groups.google.com.br/group/medunicampxvi e contribua com fotos!

Prá quem hesitou meses em começar o tal blog, essa reunião foi uma excelente desculpa. Nada como rever velhos amigos! Se vc tava esperando inconfidências, daqui não vai sair nada. Até por que, mesmo os velhos clássicos da baixaria foram cantados com uma certa reserva, causada pela presença dos respectivos e respectivas e também dos vários filhos. O pior que posso contar é que flagrei muita gente enchendo a cara de água com gás!!!!!!!!! Até a próxima!